As naftalinas do mictório

Os mictórios sempre foram algo desafiador na minha vida. Primeiro, porque demorei, devido à minha estatura, para alcançá-los e poder fazer ali a minha necessidade número um. Até parava em frente da louça posta na parede, mas o máximo que conseguia era mirar para cima e correr o risco de me molhar, principalmente, quando se aproximava do fim, quando o esguicho já ficava sem força ou controle. Acabava, para evitar problemas, indo no vaso sanitário, que era mais seguro, isolado e tranquilo.
Recentemente, um novo desafio foi proposto por este desaforado utensílio - por assim dizer - do banheiro masculino. Para evitar a propagação do desagradável cheiro, as meninas que fazem a limpeza na Rede Vale colocaram duas naftalinas no mictório. Elas ficam se batendo e posicionando-se naqueles buracos que permitem a saída do xixi. O posicionamento dos tais buraquinhos permite que fiquem dois mais acima e, lógico, o desafio é fazer com que as naftalinas cheguem até eles. Me sinto um bombeiro jorrando água, como se fosse limitando a força do fogo e o cercando até que se esgotem as fagulhas. Elas se batem, caem em um buraco, pulam para outro, vão lá em cima e, pimba, ficam no que é mais difícil de conseguir. Mas isto acontece com uma delas. A outra insiste em não se posicionar. O combustível está acabando e ela não assume o seu lugar. Até que um derradeiro e guerreiro jato faz o que estava proposto. Ponto. Estão as duas naftalinas nos buraquinhos da parte alta do mictório. Isto me faz crer que não é possível desistir da guerra quando perdemos algumas batalhas. Poderia ter corrido, quando o danado se mostrava alto e poderoso, mas me mantive, lá, firme e forte. Hoje, o venço com tranquilidade.

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