"É o Marcio?", perguntou uma senhora com máscara, daquelas usadas durante o período da pandemia, e lenço na cabeça, em plena Estação Rodoviária de Porto Alegre. Desligado, como quase sempre, pensando naquilo que ainda tinha que fazer, havia percebido a senhora observando-me, mas não consegui a reconhecer, devido à máscara, que lhe cobria parte do rosto. O som da voz, no entanto, foi peculiar.
"Eu sou a Vera", ajudou, percebendo a minha cara de estranheza. Que vergonha! Tenho profunda admiração por essa mulher, pelo que representou para crianças de Taquari, como professora; para meus amigos Jerônimo, Juliana e Giovana, como mãe; para a sociedade, como cidadã ativa. Mas, passado o momento em que fiquei encabulado, conseguimos ter um bom papo, relembrando a época em que as visitas eram frequentes, em sua casa, tanto para fazer política quanto para fazer um aquece para a balada que viria.
Depois dessa interação durante o trajeto até Taquari, uma outra oportunidade de atualizar as conversas - um encontro no supermercado e o auxílio, até a esquina da Albino Pinto com a Osvaldo Aranha. Estava com aqueles carrinhos de feira, mas como era subida e sua companhia sempre trazia tanta paz espiritual, fiz questão de acompanhá-la e, claro, prometer uma visita.
A ajuda para levar as compras foi efetivada, a promessa, no entanto, não pode ser cumprida. No último sábado, vi postagem do Jerônimo reproduzindo a notificação do falecimento da Vera Pereira. A despedida, diante das dificuldades de locomoção criadas pelo desastre natural registrado no Rio Grande do Sul, foi à distância.
A visita que deveria ser feita, como forma de reconhecimento pelo ser humano que ela foi, ficou na promessa. Devo um pedido de desculpa! Mas ao invés de fazê-lo, vou agradecer a Deus por ter tido, durante um período da vida, a oportunidade de estar mais próximo, de conviver e aprender com esse ser humano incrível. Sei que isso devia ter sido dito antes! Sei que deveria ter cumprido a promessa da visita! Mas também sei que ela tinha ciência da minha admiração, assim como de meus familiares.
Assim, mesmo distante, fica meu reconhecimento público, meu agradecimento e minha despedida!
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