Amizade

Há pouco mais de um ano escrevi sobre a solidão. Não havia muitos dias tinha mudado de cidade. Deixava a minha conhecida Taquari para um ambiente mais movimentado, com o dobro da população e a tradição progressista alemã: chegara em Lajeado. Os primeiros momentos foram de apreensão, mesmo tendo sigo bem recebido pelos colegas do jornal e as poucas pessoas de quem tinha notícia nesse município.
Me senti só. Para mim não era novidade. Mesmo com a vida agitada e sendo bastante conhecido onde trabalhava, não podia contar com muita gente além de minha família. Eram alguns amigos que, talvez, não passasse do número de dedos. Me sinto bem assim. Acontece que em Lajeado nem essas pessoas estavam comigo para poder me dar um ombro para chorar, um ouvido para que eu falasse minhas mágoas - nunca fui de falar quando tinha oportunidade, mas quando vi que não havia quem me ouvir, então vi que precisava -, não tinham olhos para ver meu trabalho e dizer se estava bom ou ruim; faltava a Jair da Lagoa Seca, o Zé, do Rincão, as gurias do Clube de Mães, o pessoal da 3ª idade, ouvintes que formavam uma grande família - saudade disso.
A solidão em Lajeado foi diminuindo com o surgimento de algumas pessoas que, com um grande coração, foram me inserindo num grupo bem parceiro. Eles não substituem os antigos, mas podem ser chamados de amigos e me orgulho muito disso. A vida, porém, faz com que todos os dias siga sozinho para casa, à noite. É difícil reunir o pessoal durante a semana, todos trabalham e têm suas obrigações. Foi nessa caminhada, agora pequena, pois estou morando perto do jornal, que conheci um ser especial.
Ele tinha tudo para não me querer bem, pois a sua função era virar a cara aqueles que passam durante à noite, sem importar quem seja. Mas o danado começou a dar amostra de que assim como eu, precisava de um pouco de carinho (tem dia que estamos assim); até que um dia colocou a mão na cerca e me permitiu aproximação. Assim que o alisei ele baixou a cabeça, encostou no alambrado, como pedindo o carinho que não recebia.
Depois deste dia. Todas as noites me encontrava com ele - de passada, é verdade - só enquanto estava cruzando a frente da loja de carros, mas servia para ver que ele sentia a presença de alguém e que não estava só. Sumiu meu amigo, o canino da loja da esquina não apareceu mais - por certo o dono viu que ele não servia como um cão de guarda, mas um grande produtor de amigos. No primeiro dia vi que ele estava preso e chorava muito. Depois, nem isto mais. Coitado, deve estar só em outro lugar. Assim como eu. Tenho os meus amigos e iiiiiihhhhhhhiiiiiii. Tomara que ele tenha também.

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