Uma noite - quatro vidas

Eram 23h de sexta-feira. Faltavam duas, das 88, páginas para encerrarmos mais uma edição do jornal O Informativo, quando uma ligação muda a rotina daquela noite, que se apresentava como tranquila. Era o editor de polícia anunciando um acidente com possível gravidade na BR-386. A movimentação das ambulâncias era grande e a constatação foi rápida e óbvia: era de grande vulto o que tinha acontecido na rodovia. Chamamos a fotógrafa e eles se dirigiram para o local: o histórico e sangrento quilômetro 304, na cidade de Pouso Novo. O local é acidentado, com jeito serrano e tomado de curvas perigosas. A primeira impressão é de que teríamos que segurar a edição um pouco. Eles chegariam lá, fariam foto, pegariam dados e logo retornariam. Ledo engano. Quando passaram pelo pedágio receberam a informação de que ônibus, caminhão e carro se envolveram em acidente que resultara em 18 mortes. Ora, foi preciso mudar tudo; chamar o plantonista; agir. Troca página de lugar, libera o que é possível e deixa reserva para esta notícia que, certamente, atrairia a atenção dos leitores, no dia seguinte. Capa, páginas 2 e 3. Afinal, tratava-se de mais um triste acontecimento na história de cobertura jornalística destes profissionais, mas que teria repercussão incalculável. Ao chegar lá a constatação mais amena, mas não menos trágica, de que seriam pelo menos quatro mortos. No carro, em meio às ferragens, sob um caminhão, um menino de 15 anos falava, mostrava que era preciso as equipes de socorro agirem rápido. Havia uma vida que poderia ser salva, em meio a tanta desgraça. Pega dados, elabora textos, faz fotos, e comemora: o menino foi salvo. Mas aí o relógio já marcava 3h15min. A noite, que costuma ser uma criança, já passava da metade e todos torcíamos por um adolescente, que nem sabíamos o nome. O retorno complicado, a montagem das páginas, a revisão e posterior impressão fez com que O Informativo chegasse mais tarde na casa das pessoas, mas completo, com a tradicional seriedade, e atualizado, como poucos. Respeito ao leitor, compromisso com a profissão e a valorização do excelente trabalho feito pelos colegas. Por isso atravessamos a madrugada e, quase, completamos 24 horas acordados. Espero, sinceramente, que tenhamos atendido às expectativas daqueles que confiam em nosso trabalho.

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