Saudades

Existem pessoas que fazem a diferença em nossa vida. São elas que, quando chega finados, nos voltam na memória e nos fazem pensar em tudo o que estamos fazendo, o quanto e o que queremos. Algumas delas já não estão entre nós. Poderia citar várias delas, mas gostaria de ressaltar uma em especial: Manuela Marmitt, Dona Nena, ou, para mim, Vó Nena. Ela se foi quando tinha 92 anos. Diziam: "Ela já era velhinha", como forma de minimizar minha dor, quando recebi a informação de que havia sido encontrada morta, no chão. Creio que não sofreu em sua partida; que ela já imaginava que isto iria acontecer; que sabia que seus dias estavam contados, quando parava na janela, com os dedos meio curvados, abanando até que eu saísse de sua visão. Figuraça. Talvez tenha partido naquela manhã, porque sabia que isto poderia acontecer um pouco mais tarde, quando estivesse lá com ela. Era sexta-feira, sempre ia lá para almoçarmos. Naquele dia o almoço foi indigesto, sem ela, mas com muitos me acalentando. Apesar de todas as tentativas de ser racional, foi meu lado emocional que floresceu; me entreguei; me mostrei; enfraqueci. Era um encontro semanal, alguns minutos, muitas histórias - a maior parte repetida - e muitas, mas muitas e largadas risadas. Até hoje, 11 anos passados, me recordo, falo, e uso muito do que ela dizia. Era mais do que uma vó. Era uma velhota pra frente, hiperativa, que gostava da vida e de cuidar de suas galinhas. Vó Nena, às vezes, não entendia como eu estava lá no rádio e na frente dela ao mesmo tempo; não dava bola pra isto; tinha maior orgulho do seu neto, queria vê-lo vencer, prometia dar o sapato para o dia da formatura - não viu, de corpo presente, a formatura, mas tenho certeza de que estava lá, dando risadas encantadoras, como sempre.

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