Sala de espera

Uma sala comprida, branca, bem iluminada, com dois cuspidores de vento fazendo este verão senegalesco transformar-se em um agradável clima alpino. Nas televisões, sim no plural, porque três estavam expostas e ligadas, novela e desenho animado. O que não era nada animador era o clima deste ambiente. Todos na espera de uma notícia, na tensão de quem não sabe o que se passa do outro lado daquela porta - também branca, que diz não ser possível passar sem ser convidado. O barulho constante da TV, a chuva que se passa do outro lado da vidraça, a noite anterior mal dormida, tudo ajuda para, neste momento, o sono se apresentar. E ele chega valendo. Vem com força, mesmo. Ainda mais após à tentativa de ler um jornal sobre assuntos técnicos da sua profissão. Escrever parece ser uma boa solução para passar o tempo e a angústia da espera de alguma informação. Mas até mesmo a escrita, ora feita em papel e caneta se transforma-se em motivo para baixar a cabeça e, junto, as pálpebras. O que me faz crer que se Deus escreve certo por linhas tortas, eu escrevo torto por linhas certas. Eis que, no fim da sala, um aviso sonoro - tradicional do funcionamento dos motores - mostra o que pode haver solução para minimizar os danos do sono. Duas máquinas self-service. A da direita se reserva aos naturebas. Sucos de todos os sabores: laranja, uva, limão, laranja com mamão, com isto, com aquilo e aquele outro. A outra me pareceu mais apetitosa e alimentou um vício diário: café. R$ 1,50 em moedas e ela, modernosa, providencia um capuccino espumante - algo de dar inveja para qualquer batedor de café. Um espetáculo. Um, porque as moedas acabaram. Tenho notas de R$ 2,00 em papel, mas ela não gosta; não quer esta desnaturada. Ignora meus R$ 2,00. Alguém deve ter moedas nesta sala. Um pedido de muitos. Como um pedreiro a procura de alguns reais para mais uma pedra que será o seu deleite. Só em pensar que não há moedas - maldito sapo engolidor de moedas (cofre doméstico) -, o sono retorna. A máquina me olha, sento perto dela. Sei que não será caridosa, sei que me olha com ar de desdém por ter dados as moedas para o sapo; está sorrindo ao ver que tenho dinheiro, mas não como comprar. Bem diz o ditado que dinheiro não traz felicidade. Na sala grande, além dos necessitados de café, estão outros tantos. Os moderninhos com note e netbooks - aqui tem wifi; os mais antigos com alpargatas em couro; os de longe, que reforçam o som do "e", em leitE quentE, por exemplo. O certo é que a interação é lenda, que muda muito quando se percebem seus familiares. Por falar em familiares, lá vem a mulher de verde, aquela que é o arauto das informações da saúde de quem passa pelo bloco cirúrgico e UTI. Está na hora de acompanhar a paciente e tomar o segundo e providencial café.

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