Eu só quero chocolate...

Não quero chá; não quero café; não quero Coca Cola. Quero chocolate. Sim. Chocolate - este desaforado alimento calórico, que não deve ser de Deus. A constatação do afastamento divino não é pelo sabor, porque se esta fosse a questão, certamente, seria distribuído no paraíso. É pelo pecado da gula.
Não entendo o motivo da tal cobra, no Éden, ter oferecido maçã para Eva. Corria o risco da primeira mulher do mundo ser como eu: não tolerar o ruído da mordida da maçã. A obstinada serpente veria seu ardiloso plano correr água abaixo. Se o capeta fosse esperto, de fato, daria um jeito de inserir chocolate na história. Adão e Eva, ambos nus e melecados de chocolate, adocicados ou mesmo com aquela sensação do meio-amargo... seria a própria tentação.
Talvez, assim, em uma reação revanchista, Deus exterminasse o cacau do mundo, fazendo com que o tal líquido, pasta ou barra, ficasse apenas no imaginário humano que é virtuoso, mas ainda não consegue sentir sabor. Que nada, a cobra não se deteve a vasculhar as delícias que a natureza tem a oferecer e pegou a primeira fruta que apareceu pela frente: vai maçã, mesmo. Eva, boba, caiu feito uma heliothis virescens (larva da maçã).
E nós, hoje, nos perdemos no chocolate - a cada dia menos chocolate, mas mais gostoso; a cada dia mais tentador e nas mais variadas opções de formato e tamanho. Derretendo no fondue, em cascata nas vitrines de lojas especializadas, nas barras, nas trufas, ao leite, no negrinho (brigadeiro), nos dedos melecados, ele é um desbunde, um atentado à gulodice.
E viva Tim Maia, que cantou para todo mundo ouvir uma ode ao chocolate. "Não adianta vir com guaraná pra mim. É chocolate o que eu quero beber".
 

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