O presente da dinda Cissa

Existem situações, na nossa vida, que ficam na lembrança. Algumas delas nos batem à memória, porque são agradáveis, tiveram um sabor especial, aroma diferenciado ou, por algum motivo, nos fizeram felizes. Existem, por outro lado, aqueles que martelam nossa cabeça e ficam como cicatrizes, ou tatuagens, para sempre. É a este último tipo, que me refiro.
Um dia, aniversário da dinda Cissa - madrinha de minha irmã - eu tinha ficado encarregado de levar a mana até a festa, no meio da tarde. Enfeitei a pequena, fomos para a casa da vó, de onde partiríamos para a comemoração.
O presente estava em uma sacola. Era um destes vasinhos de barro com flores. Para evitar que a afilhada o quebrasse, tirei o embrulho de suas mãos, a deixando um pouco frustrada. Devia ter deixado. Pouco antes de sairmos, não sei por qual motivo, fui subir no murinho da área, com o presente pendurado em uma das mãos. A sacola balançou, bateu no muro e o vaso espatifou-se. Minha irmã chorou tremendamente. Tive vontade de fazer o mesmo. Afinal, que grande cuidador era eu? Frustrei uma criança, que não se sentiu confiante para preservar o presente e, em seguida, lhe mostrei minha irresponsabilidade - tudo que eu não deveria. Fomos à festa; ficamos felizes pela comemoração, mas tristes por ter ido sem o presente, que não tinha valor monetário, mas sentimental. Se tem algo que fiz e me arrependo, nesta vida, é isto: acabei com o presente da dinda Cissa. 😞

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