As duas metades da laranja

O ser humano não nasceu para viver sozinho. E não adianta tentar fugir desta afirmativa. Até para nascer precisa de outra pessoa. Primeiro dos pais, depois, dos médicos (ou quem estiver por perto, em alguma atitude mais desesperada). Agora, também não nasceu para colar em outra pessoa, como se, de fato, fossem as duas metades da laranja, simplesmente, só para formar par. Não adianta forçar a barra, por qualquer que seja o motivo, porque o máximo que vai acontecer é estas duas metades de laranja ficarem secas e, delas, não sair mais suco.
As frutas mais carnudas, com capacidade de produzir a maior quantidade de suco, são aquelas criadas em pés bem adubados, que se alimentaram de conhecimento (cada um de sua metade e, depois, da metade a que se propõe unir), que trouxeram do solo as suas marcas, umas imutáveis, outras passíveis de adaptação, para formar uma nova variedade, quem sabe, detentora de ainda mais caldo.
Assim, parece tão vil a vontade coletiva de estar junto de alguém, apenas, porque junho começou. É o mês dos namorados. Amor de Dia dos Namorados é semelhante ao amor de Carnaval. Acontece, você curte, e passa como o último bloco, na chegada da manhã da quarta-feira de cinzas. Que os verdadeiros amores façam do 12 de junho um ápice para a consagração daquilo que sentem, do quanto abriram mão para estar juntos, do quanto um conhece o outro, do que são capazes de enfrentar para continuar sendo uma linda laranja, formada por duas sadias metades. E o mais importante é que saibam que já foram uma laranja inteira (cada), mas que abriram mão de metade para se encaixar nesta outra variedade e produzir o mais saboroso suco que a sociedade pode ter.

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