Encantado com um crime passional

A música diz muito. É bem mais do que uma companheira, quando se está sozinho em casa. Ela faz dançar - o que é ótimo como exercício e ainda serve como motivo de aproximação para os interessados casais -, faz relaxar, faz lembrar de pessoas que tiveram alguma relevância na vida, e, se tiver a letra analisada, ainda pode conversar com o seu ouvinte. No entanto, ao que parece, pouco se dá atenção ao que diz a canção, deixando ao ritmo a responsabilidade de garantir o sucesso ou fracasso da obra.
Algumas letras marcam e dizem muito. Por si representariam a grande vendagem que os artistas tiveram. O acréscimos das notas musicais as ilustrou e transformou em agradáveis também aos ouvidos, além dos olhos. É o caso de "Cidadão", de Lúcio Barbosa, que ganhou vida com Zé Geraldo. Trata da vida sofrida do povo que deixa o Norte para sofrer no Sudeste, em busca de dias melhores. Chega ao ponto de apresentar o questionamento que todos os migrantes devem se fazer: "Essa dor doeu mais forte. Por que é que eu deixei o norte? Eu me pus a me dizer. Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava tinha direito a comer".
Emociona e faz pensar em que tipo de gente estamos nos transformando. E levantar esta questão sobre o rumo dos seres humanos é pertinente aos que gostam da música Ronda, de Paulo Vanzolini e que ficou primorosa na voz de Maria Bethânia. Trata-se de uma declaração de amor, mas também relata uma relação de ciúmes, possível traição e, por fim, um crime passional. "E, nesse dia então Vai dar na primeira edição: Cena de sangue num bar da Avenida São João..."
E assim as letras contam, no mundo imaginário e encantador da música, a dura realidade, em que há nascimentos e mortes, encontros e desencontros, muito amor e muita traição e, até, uma morte, no bar da Avenida São João.

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