A capacidade de sentir

A profissão jornalista é como um sonho recheado com muito doce de leite. Ocorre que no lugar do adocicado recheio, existe uma série de histórias e imagens que comovem - umas pelo teor dramático, outras pela singeleza. Com o tempo, aqueles que se julgam mais profissionais, se orgulham de ter se acostumando e, por isso, perderam um pouco do lado humano, que é capaz de se emocionar com estas situações.
Quero morrer jornalista sem perder a capacidade de surpreender-me com a vida, com os seres humanos, quer seja pelo lado bom ou ruim. Quero ver correr uma lágrima ao ver situações corriqueiras, mesmo que esta lágrima insista em esperar o trabalho encerrar para escorrer pelo rosto. Quero ver Toy Store e me emocionar com o momento de despedida entre o adolescente e seus brinquedos.
E não se trata, no exemplo dado, de uma supervalorização dos brinquedos, como algo material. O que ocorreu, ali, foi o encerramento de um ciclo muito importante para a vida do cidadão. É uma despedida, um adeus aos parceiros (muitas vezes, os únicos), aos que permitiram viajar por muitos lugares, viver diferentes personagens, sem sair do quarto.
Todos passamos por isto. A vida é uma sequência de despedidas: dos brinquedos, dos amigos, dos familiares, dos colegas de trabalho. O mais importante são as boas lembranças que levamos de todos e a capacidade de nos colocarmos no lugar de cada um - como no lugar do adolescente, do filme, ao despedir-se dos amigos-brinquedos.

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