Em busca da liberdade

São 17h de um sábado qualquer. A fila, em frente às salas de cinema, dá a impressão de que o filme se trata de um fenômeno de bilheteria. Adultos são poucos. A maior parte é de adolescentes influenciados pelo autor do livro, que originou o filme, e pela beleza dos artistas que fazem o "casal romântico".
O filme é Cidade de Papel, mas poderia ser qualquer outro. A intensão de fazer este programa se aproxima do objetivo de uma corrida em busca da liberdade. É ali, no escurinho do cinema, que o proibido se torna possível; que o escondido deixa de ser crime, pois todos, na escuridão, estão "escondidos".
É este o momento que os jovens casais têm para se encontrar sem se preocupar com a presença de outras pessoas - quer seja pela timidez, quer seja pelo olhar condenatório dos demais. E assim estavam dois pares, na última fileira. Antes mesmo de iniciar o filme, já haviam se posicionado de forma que pudessem trocar carícias e ficar bem pertinho. Os estalos dos beijos eram audíveis a pelo menos duas filas de cadeiras à frente.
Se acendesse a luz seria possível ver corações saindo das unidades que formavam, tamanho era o sentimento que demonstravam. Eis que começa o filme. O casal, aparentemente, mais velho para de trocar beijos, se vira para o telão e fica abraçadinho, trocando carinho com as mãos e, eventualmente, um bicotinha - só para não perder a prática.
Os mais novinhos, que devem ser tolidos no dia a dia, viram naquela a única oportunidade, e não pararam os beijos, Ficaram do primeiro ao último minuto com lábios colados - no mesmo ritmo, com a mesma intensidade, com a mesma vontade. Não viram o filme; não sabem como começou, muito menos como terminou, mas sabem que valeu muito a pena ter pago aquele ingresso; e não sabem, que ver o romantismo real deles foi muito melhor do que o romantismo fictício do telão.
E viva o escurinho do cinema, onde Rita Lee chupou drops de anis, onde pode se viver o sentido do amor, sem o pejorativo, sem a banalização, mas com sentimento - como o casal beijoqueiro, que em momento algum foi vulgar; que não faltou com o respeito, nem a si, nem aos demais; que viveu uma bonita cena, em que as mãos se controlaram, que o carinho foi feito com a inocência de quem gosta; e que só foi em busca de um espaço para conquistar a liberdade sem o olhar promíscuo dos adultos, que enxergam maldade, onde ainda não tem.

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