Tchaaaaau, pai!

Usar o transporte coletivo é a oportunidade de vivenciar o diferente, perceber como as pessoas agem, pensam, se posicionam sobre os mais variados assuntos. Para quem gosta de moda, pelas poltronas e corredores dos ônibus passa uma imensidade de estilos. É o atual, o psicodélico, o antigo - vintage, o antigo - antiquado, o cabelo pintado, o sem cabelo, a calça nova, a rasgada, a curta, a de cintura baixa e aquela que sufoca o peito da figura. Há de tudo e de todas as idades.
E por falar em idade, não creio estar em meu destino ser pai. Pelo menos, não parece estar nos planos recentes - e, em se contando o adiantado da idade, é considerado justo abandonar esta ideia. Apesar de não ter a vocação para a paternidade, a considero uma das situações mais lindas que os seres podem viver. A possibilidade de saber que aquela pessoa nasceu de você (junto com a mãe, é claro) é algo sensacional. E aquele bebezinho, tão pequenino, vira um ser tão grande, cheio de opiniões, atitudes, capaz de fazer mais bebezinhos.
Mas o que tem de relação entre o coletivo e a paternidade? Pois foi em um ônibus que entrou um casal e sua filha pequena. Não mais do que três anos. Muito cheio, o veículo estava com diversos sons - do motor, das pessoas falando, do rádio -, o que inviabilizava ouvir a menina. Entretanto, conforme foram descendo alguns, se percebeu, novamente, a existência da criança, que foi imortalizada no instante em que seu pai desceu (mãe e menina ficaram no ônibus). Um silêncio estabeleceu-se no local. O pai cuida dos degraus para não cair; desce concentrado e não se despede. Eis que, do fundo do ônibus vem uma demonstração de carinho em caixa-alta. "TCHAAAAAAU, PAI!", disse a pequena. Ela não ouviria a resposta sonora, então o pai deu um jeito: acenou para aquela que deve ser sua maior alegria.

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