O dia em que as máscaras caírem

O uso de máscara sempre foi uma forma de disfarce, de esconder ou dificultar o acesso dos outros aos nossos segredos, ao nosso "eu" que não é visível, mas que insiste em se mostrar pelo sorriso, os olhos, a dita comunicação não verbal.
Elas serviram para aguçar a curiosidade, nos tempos dos finos bailes, reforçando a ideia de que o secreto dá força à sensualidade; elas esconderam pais e mães, que vinham de vermelho com o saco cheio de presentes no Natal - e lembrando de como eram as máscaras dos Noéis fica fácil entender o porquê tanta criança tinha medo dele.
Mas nem só susto ou sensualidade elas causavam. As máscaras traziam segurança. Atrás de uma delas poderia estar o Zorro, o Batman, o Arqueiro Verde, a Mulher Maravilha ou algum outro super-herói, que nos garante a salvação de todos os males. Até um rato, que comia cebola para enfrentar seus inimigos, usava a máscara. Sim. Já fomos defendidos por um rato. "Santa leptospirose", diria Robin, o companheiro mascarado de Batman.
De todas as máscaras, porém, a que parece esconder mais e tem data de validade curta é aquela invisível, usada por quem quer esconder sua verdadeira personalidade. Quando esta fictícia barreira cai vemos quem são as pessoas de fato.
Atualmente,  estamos todos mascarados. O pedaço de pano, associado ao álcool em gel, virou material bélico na luta contra um poderoso vírus. Tudo vai passar e, quando tirarmos a máscara, além da orelha de abano, consequência dos elásticos, vamos estar com o sentimento de tristeza pelos que se foram, mas com um sorriso no rosto mostrando que mais uma batalha foi vencida e que merecemos uma nova máscara - não a de Papai Noel,  nem a que faz sensualizar, mas a de herói, porque só com superpoderes conseguimos viver nestes tempos complicados.

Comentários

Filipe disse…
Muito bom, Marcio!
Que os sorrisos possam aparecer logo pelas ruas!