Quatro pastéis e um amor

- Vamos fazer uma fotografia, filho? 
Diz a mãe para o menino com espectro autista.
- Eu faço, mas eu quero quatro pastéis. 
Responde. 
Feito o registro fotográfico. 
- Olha como você ficou bonito.
Fala o repórter mostrando a tela da câmera digital.
- Ahan. Mãe, eu quero quatro pastéis. 

A história é real e serve de mote para apresentar uma outra história real envolvendo pessoas do espectro autista.  Está no Netflix o reality australiano Amor no Espectro, que acompanha a busca destas pessoas por um relacionamento. 
A forma menos romantizada como observam o mundo torna bem mais difícil o ingresso na vida amorosa, sobretudo, porque os diálogos vêm carregados com sinceridade. 
- Você é linda, mas não extremamente linda.
Disse um dos jovens galanteando a pretendente. O surgimento de um assunto que lhe atrai mais pode fazer ir por água abaixo a atenção dada ao possível amor da vida.
Mesmo assim, todos, com sua pureza, seus níveis e peculiaridades do espectro, demonstram abertura para estar com alguém, para dividirem sua vida com uma pessoa especial.
Não faltam incertezas, momentos de sentir as mãos suando, de ansiedade, de timidez, quando ocorrem os encontros. Nada que as pessoas fora do espectro também não sintam. Com o diferencial que terminar uma linda noite com um leve aperto de mão pode ser a certeza de que foi especial e que irá se repetir, sem a necessidade do beijo encantado, mas com a possibilidade. 
No rosto fica o sorriso de quem está encantado; encantado com a pessoa amada; encantado com algum detalhe do restaurante; encantado pelo fato de ter virado artista em reality; encantado com a vida.
Poderíamos ser mais sinceros e nos ofendermos menos com a sinceridade; dar mais valor a fatos menores, sem perder a ambição por conquistas maiores; nos permitirnos ter momentos na vida em que queremos nada mais do que quatro pastéis.  

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