É duro ser santo no Brasil

Existe, para quem tem a crença católica,  um santo para cada dia. Nos aproximamos da data de uma das mais veneradas, Nossa Senhora Aparecida. Ela tem tanto destaque que consegue ser motivo para um feriado nacional religioso, em um país que se apresenta como laico. Ãh? Melhor não questionar. São coisas do Brasil.
Mas não é fácil ser santo neste país. Os mal amados insistem em fazer todas as promessas, até afogam estatuetas ou as deixam de pernas para cima até que apareça a pessoa amada; há os revoltados que, incrédulos, chutam imagens até quebrar o gesso ou porcelana, como se estivessem fazendo um ataque celestial sobre algo satânico. 
Não raro aparece quem leva o dinheiro do dízimo, deixando o santo a ver navios; e em navios é que eram transportadas imagens ocas em madeira, no período colonial, onde colocavam algum tipo de contrabando. 
De tudo os santos têm aguentando. Eles vão desde belas peças de arte até um amontoado de barro feito por quem se diz artista. Mas o que vale é a intenção, o carinho, a devoção. Certamente, os santos, todos reunidos e próximo de Deus, devem até achar engraçado tudo isto. Agora, o que deve ser difícil de aceitar é ver a sua designação envolvida com política, em eleições. 
Nossa Senhora Aparecida deve ficar arrepiada, quando se aproxima mais um pleito, e os candidatos colocam em pequenos papéis as suas promessas, chamando aquilo de santinho. Não basta usar a palavra santo, ainda aparece com um "inho", que passa a impressão de mais querido.
Ficar enfiado em um copo com água até que o feio ache um amor é uma coisa, mas ser o meio para que os políticos consigam o seu fim, aí já é castigo demais para os pobres santos. É claro que não tem a ver com a religião, mas o uso da palavra é que assusta, até porque muitos expostos nos santinhos, de santos, não têm nada. Tomara que os santos verdadeiros perdoem esta blasfêmia permitida pela gloriosa língua portuguesa. 

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