Adeus, Seu Juvenal!

Um a um estão se despedindo os moradores do bloco de casas da Euclides da Cunha, abaixo do Figueirão. Foi Dona Eva, foi Seu Auri, foi Selma, foi Júlio e, agora, foi Seu Juvenal. 
Juvenal Barbosa, homem imponente, com posses, o único que tinha carro naquele grupo de moradores, o mais velho, mas nem por isto menos ativo, nem parecia o estilo avô bonachão, mas tinha um apreço incrível por seus netos e as crianças da rua. Seu Juvenal, como era chamado, com Dona Seni, criou os cinco filhos com pulso firme; olhava para eles, falava o que queria e acabavam fazendo.
Depois de algum tempo, por determinação médica, já não podia fazer as lides do campo, mas o médico não estava lá para ver. Fazia questão de mostrar como queria que a coisa fosse feita e, não raras vezes, acabava fazendo. Um cara de colocar a mão na massa, de fazer acontecer, de segurar o dinheiro como Tio Patinhas, do desenho animado, mas de soltar sem dó quando acreditava no projeto e quando via que era para o bem comum.
Dono do único veículo da rua, em época que não havia Samu, era o socorro quando alguém estava doente e precisava do hospital, tanto na condução quanto em eventual necessidade de dinheiro para remédios ou atendimento. Sorte? Lubuna, como falava, enquanto fazia o que mais gostava: jogar canastra? Pode ser. Mas também muito trabalho e a melhor utilização dos ensinos da faculdade da vida.
Teve cinco filhos e uma porção de netos, mas tinha todas as crianças da rua como se fossem da família. Cada conquista de cada um daqueles meninos e menina eram como se fossem de algum dos seus. 
As visitas nas casas em aniversários, no molde dos antigos ternos de reis, já não faziam parte da realidade; as longas partidas de canastra ficaram na história; aqueles fartos cafés, depois de um mutirão na plantação de milho ou melancia, restavam no passado; mas sabíamos que ele ainda estava por lá. Talvez, até, nem nos reconheceria, não era mais o Juvenal Barbosa imponente de outrora, mas ainda era o nosso Seu Juvenal; agora, de fala mais espaçada e com volume mais baixo, mas era parte viva de nossa história. Nesta semana,  nos despedimos sem dizer adeus, apenas à distância em forma de oração; mas ele era um pouco assim mesmo, como diz a música: não aprendi dizer adeus. 
Certamente, em algum lugar, há festa com comilança, música e ele deixando tudo pronto, ao seu jeito, para quando chegarmos. Até um dia, Seu Juvenal! Ah, é tente jogar sua canastra, aí, sem o óculos, porque os malandros ficam olhando suas cartas no reflexo do óculos. Às vezes, a lubuna se explica.

Comentários

Anônimo disse…
Obrigada Márcio pela homenagem ao vovô Ass:Bárbara