O valor da bunda e o valor da vida

O Brasil chegou, nesta semana, à triste marca das 400 mil mortes por Covid-19. A doença que tomou o mundo já matou 0,2% da população nacional, desde crianças até idosos. São 2, 3, 4 mil óbitos por dia. Sobre esse assunto, nossas preocupações são: morre mais gente aqui ou na Índia; se tivesse tomado o kit estariam vivos; só existe Covid, agora; meu familiar não morreu de Covid, inventaram para ganhar dinheiro.
Mas este não é o assunto que mais gera preocupação, comentários ou repercussão. Mesmo sabendo que 400 mil brasileiros nos deixaram por causa de uma doença, ainda pouco conhecida, queremos é condenar a nudez de Fiuk e Gilberto, dois personagens do Big Brother Brasil. As bundas dos dois rapazes, somadas ao selinho, que deram em comemoração ao fato de terem passado pelo crivo popular, são motivos de revolta nacional.
Morrer 400 mil pessoas tudo bem, um dia morreriam mesmo. Aparecer bunda na televisão, com beijo entre homens? Ah isto já é demais. 
Triste fim deste país, que era alegre, que exaltava o Carnaval, que valorizava o ser humano, que sabia que o rosto de um morto merece mais atenção do que uma bunda. Hoje, não sabemos mais. A bunda alheia é mais importante do que a face, a alma e o corpo levado pela Covid. Para ela, a Covid, ficamos quietos, quando muito, duvidosos e raivosos. 
Está mais do que no momento de cessarmos os óbitos por Covid. Por mais bundas, mais selinhos e menos dor, causada pela perda de quem amamos. Rostos valem mais que bundas.

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