Oh, tio!

Nunca tive o hábito de chamar as pessoas de tio ou tia, exceto, claro, os irmãos e as irmãs de meus pais. Nem na escola, onde muitos tinham esta prática, eu usava o tio e a tia para referência aos professores. 
Claro que entendo que se trata de uma forma juvenil de substituir o senhor e a senhora. Assim, o uso de tio e tia é, na verdade, um meio de demonstrar educação, consideração pela idade daquela pessoa com quem estão conversando. 
Avaliar os diálogos alheios é interessante. Mas quando o tio é direcionado à você parece estranho. Não me sinto eternamente jovem; sei que avancei na idade e que as consequências aparecem, mas tem coisas que só percebemos, de fato, quando acontecem com a gente.
Fui buscar leite no mercadinho da esquina; na estrada, uma porção de moleques brincava com uma bola - pedras eram as goleiras, as chuteiras eram tênis e até Havaianas, os uniformes eram as roupas que colocaram pela manhã, e as linhas do "campo" as cercas dos pátios pinheiros.
Ao passar pelo improvisado campo, a bola veio para o meu lado. Um deles grita: "Tempo", que era para eu passar. Quem estava com a bola não ouviu e tentou seguir o lance. O outro segue: "Espera para o tio passar". Assim que passei, sai um grito: "Destempo", era a autorização para o recomeço. 
Na volta, após um gol, o menino da defesa lança a bola para seu colega, que, distraído, não a viu. Ela veio em mim. Dei um pequeno chute em direção ao que deveria ter recebido a bola. Ele agradece: "Valeu, tio!" 
É, parece que meus cabelos brancos já não permitem a minha condição de apenas dindo, já que sobrinho, de sangue, não tenho. Virei o tio. Com respeito e consideração, mas o tio. 

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