Os uivos da solidão

Notívago. Assim me defino. Gosto dos turnos tarde/noite para trabalhar. Produzo mais e melhor se for assim. Consigo acordar cedo? Sim, mas é uma tortura, uma agressão ao relógio biológico. E como sou da paz, prefiro nada agredir.
Sendo notívago, mesmo não estando a trabalho, permaneço acordado até altas horas. Invado a madrugada e, a partir de um certo momento, sinto-me dono dela. As luzes se apagam, os carros param de passar, a vida dá lugar a um silêncio que diz muito sobre onde você está. 
Surgem as dúvidas, os questionamentos, a vontade de saber os por quês: por que a luz do quarto andar do outro prédio não se apaga? O que o cara - e parece ter só um cara - no terceiro do outro, assiste na TV? Para onde vão todas aquelas pessoas e carros que faziam barulho durante o dia?
Transformar a noite em turno útil é ter a liberdade de esticar o sono pela manhã. E no momento matutino ver e ouvir coisas que os "normais" não sabem, porque estão no trabalho. E nem tudo que se escuta é legal ou bacana. Ouço o uivo de solidão dos cães - o que é estranho, porque se é cão no plural, não estão só, mas ao que parece, a companhia de outro da mesma espécie não é suficiente. Os cãezinhos choram a saudade de seu tutor, que nem sabe do choro, pois distante está. E não há forma de acalentar. É como a saudade de um amigo ou familiar, que nos faz correr a lágrima no olho, já que o uivo deixamos para os caninos. Cada um com a sua forma de expressão. Au, au! E boa quarta!

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