CARTA ABERTA AOS PAIS

Prezados pais, as atuais gerações vivem um momento inédito quando o assunto é saúde pública. Poucos tiveram a oportunidade de presenciar, mesmo que ainda crianças, a última pandemia registrada na Terra, a gripe espanhola. Ela foi registrada entre 1918 e 1919 e resultou em mais de 50 milhões de mortes. É claro que o ineditismo, para quem vive atualmente, fez com que muitas das decisões tomadas se tornassem ineficazes ou equivocadas. Até mesmo os órgãos de saúde tiveram que reavaliar seus posicionamentos e, não raro, mudaram de opinião. Muito, é verdade, decorre da nossa ineficiência em entender o passado como instrumento preventivo ao futuro. Uma onda popular, baseada em infindáveis publicações falsas, tem preocupado. Os antivacinas querem, de qualquer jeito, ridicularizar o que a ciência produziu, testou e comprovou eficácia em tempo recorde: a vacina. O dinamismo para se conseguir esse imunizante fez com que muitos desconfiassem da sua resolutividade. Poucos, no entanto, param para pensar que nunca se produziu uma vacina tão rapidamente, nunca se investiu tanto, nunca trabalhou-se tanto para ter o resultado. No lugar da dúvida sobre o trabalho dos cientistas deveria existir o elogio. Desacreditar a vacina, agora, é repetir o mesmo erro dos brasileiros, em 1904. Vendo seus familiares morrendo de varíola, os cariocas insistiam em se negar a receber as doses, porque era algo feito com pústulas de vacas doentes. Tinham medo de passarem a ter a aparência de vacas, mas não se preocupavam em agir como jumentos. Qual ironia, os atuais antivacinas ironizam as doses com a possibilidade de virarem jacarés, de terem infiltrados chips de uma tecnologia maléfica chinesa, que pretende dominar o mundo. Pais, não há chip nas vacinas, seus filhos não vão virar lagartixas, e a China não tem pretensão de dominar o mundo no futuro - ela já o domina e produz, praticamente, tudo o que usamos, mesmo que tenha selo de empresa norte-americana ou brasileira. Assim, não imagino dor maior no coração de um pai ao ver que negou ao seu filho a chance de se imunizar ou, no mínimo, criar barreiras para minimizar os efeitos de um vírus cretino como o corona. Dói imaginar que passamos 116 anos de A Revolta das Vacinas e continuamos tendo as mesmas atitudes, a mesma crença. Os pais que evitam aplicar as doses contra a Covid-19, atualmente, são os que foram vacinados em massa, nas escolas, sem perguntar para os pais se poderia. Chegavam equipes especiais nas instituições de ensino com um aparelho, que parecia uma pistola, e aplicavam a vacina, que marcou todos como gado, usando, quem sabe, a mesma agulha em todos os bracinhos. Também são os que fazem parte da geração que viu acabar o sarampo e outras tantas doenças, influenciados pelo Zé Gotinha, sem nunca saber que vacina tinha marca. Hoje, querem saber se é CoronaVac, AstraZeneca ou Pfizer. Pais, torço para que nossas crianças não peguem nenhuma variante do coronavírus! Se por acaso pegarem, reforço a torcida para que os efeitos sejam mínimos, que não sofram. Se vierem a sofrer - estando no calendário vacinal -, sem que tenham sido imunizadas, espero que vocês se sintam responsáveis por isso. Afinal, os governos disponibilizaram, gratuitamente, o mecanismo para evitar ou minimizar o dano; os senhores é que se negaram a proteger seus filhos.

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