O presidente do Internacional é deprimente

O futebol gaúcho viveu, sábado, 26 de fevereiro, mais um dia vergonhoso. E a referência não é ao baixo nível técnico dentro das quatro linhas. Isto tem sido percebido com muitos exemplos, como o rebaixamento do Grêmio, no Campeonato Brasileiro, a queda do Tricolor na Copa do Brasil, diante do Mirassol, a posição em que está o Internacional no Campeonato Gaúcho, situação ainda piorada vivida pelo Juventude - apenas para citar alguns casos. O sábado, no entanto, foi marcado pela ignorância, pela falta de humanidade e pela brutalidade enraizada nas atitudades de determinados marginais, que se travestem de torcedores e mancham a imagem de uma legião de colorados e gremistas. No caso mais recente, a torcida colorada foi taxada como sendo violenta, quando imbecis jogaram pedras no ônibus da equipe do Grêmio. Neste mesmo momento, aqueles que foram torcer estavam dentro do Beira-Rio, sem saber o que estava acontecendo, entoando cânticos para incentivar seus ídolos. Diante da situação, que acabou machucando um atleta tricolor, o jogo acabou não acontecendo. A decisão foi a mais acertada, porque não havia clima para a realização de uma partida de futebol, em que se busca a qualidade e que se vive uma das mais intensas rivalidades do esporte mundial. Não são dois times, são duas nações, são dois símboloso de um estado, que tem por tradição a polarização. Sem jogo, sem informações atualizadas para quem estava no estádio, sem justificativa para a atitude do marginal, que resolveu ganhar a partida fora de campo. Sua ação, diante do que poderia ter causado, juridicamente, pode ser entendida como tentativa de homicídio. O elemento pode dizer que não havia intenção de matar - e por certo, não deveria haver mesmo -, mas a sua atitude poderia ter tido ainda mais grave consequência. Eis que, ao se manifestar, o presidente do Internacional se mantém, inicialmente, protocolar. Adiantou que o clube faria de tudo para identificar o agressor, que poderia estabelecer penas disciplinares, que não concorda com esse tipo de atitude. Na sequência - tomando as mesmas atitudes de político acusado de corrupção - passou a culpar a imprensa. Seriam jornais, rádios, emissoras de televisão e portais de notícias os responsáveis pelo incentivo à rivalidade clubística. Ora, presidente Alessandro Barcellos! A disputa da gangorra Gre-Nal existe desde o primeiro jogo e da estruturação dessas duas entidades, como as maiores potências esportivas do Sul do Brasil. Não é preciso a imprensa inflamar a rivalidade. Ela existe e sempre vai existir. É ela que torna o Gre-Nal um dos mais importantes clássicos do futebol mundial. Ao contrário do que o senhor falou, ao atacar a imprensa, são os jornalistas esportivos que incentivam a paz, que criticam as atitudes brutas, que inflamam a desportividade. É claro que na semana pré-Gre-Nal o assunto torna-se palpitante, mas este estopim poderia resolver em alguma ofensa à mãe alheia, uma indução a que se tome em local indevido, nada que justifique jogar uma pedra contra trabalhadores, que estão cumprindo - bem ou mal - o seu papel como profissionais. Ao atacar a imprensa, o presidente do Internacional foi deprimente. Foi mais ridículo do que a campanha do clube no Gauchão. Por essas e outras reações, que acabam tentando encontrar outras causas, que não o íntimo marginal de quem pratica o ataque, que mais pessoas vão sentir-se à vontade para agredir, afinal, diz o presidente, a culpa é da imprensa. Por óbvio, existem jornalistas que se passam, mas não podem servir de justificativa para a atitude. Além disso, se ocorre e o presidente sabe disso, deve apresentar os nomes. Quando condena a imprensa, de uma forma geral, coloca todos no mesmo patamar. Assim como não podem ser colocados todos os colorados no mesmo patamar, não pode ser considerada padronizada a atitudade da imprensa.

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