A vida passa diante de nossos olhos e, muitas vezes, nem percebemos as situações com as quais nos deparamos. São momentos importantes, que deixamos passar, assim como os sem relevância para a maioria, mas que fazem todo o sentido para quem está vivendo.
Outro dia, passando pela calçada, percebi uma senhorinha no ponto de ônibus. Sempre tem senhorinhas naquele ponto de ônibus, não seria novidade alguma encontrar mais uma. Parece que as senhorias que utilizam o transporte coletivo de Santa Cruz do Sul gostam daquele ponto.
O fato de elas sempre estarem por ali faz com que nem sempre sejam percebidas. Essa, porém, chamou a atenção. Sentadinha no canto do banco, escorada na estrutura, parecia descansar ao mesmo tempo em que garantia a sua condição estética. A senhorinha do ponto de ônibus tinha em pequeno espelho nas mãos e observava, atenta, se estava "bem".
O cabelo fininho, pintado de castanho, quase acaju, com as raízes demonstrando que logo a tinta deveria ser atualizada; o rosto com tom saudável, talvez, por algum artifício do mercado de cosméticos; o fato é que ela se olhava e se achava bonita, como de fato estava.
Aquela situação parecia lhe fazer bem. Olhou atenta, deu uma girada no braço para tentar enxergar um ângulo maior, ajustou alguns fios, que estavam salientes devido ao vento e, por fim, guardou o espelho. Esperava o ônibus bonita aos seus olhos - que é o que importa.
É claro que, onde ela não enxergava, na parte de trás da cabeça, seu cabelo parecia um ninho de pombo. Alguma restrição de movimento, consequência da idade, faz com que não consiga deixar a nuca tão bem ajustada quanto a testa. Mas isso é a visão dos demais - o que ela não vê não lhe atinge.
Pode não ter passado por sua cabeça, mas a sensação que deu é que ela estava feliz com o que viu. O que os outros verão é problema dos outros.
Seria bem bom se todos fizessem isso. Cada um com o seu espelhinho, olhando para si e gostando do que está vendo, sem se importar com o que os outros veem. Se não tiverem gostando do que veem, que virem os olhos, que façam melhor. O importante é estar bem consigo, assim como a senhorinha do ponto de ônibus.
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