Um ano de portas fechadas na Benjamin Constant, 2197

O dia é 24 de agosto de 2021. Início da tarde. Recebo uma notícia que não parecia verdade. Queria, fosse uma fake news. Não era. Encerrava as atividades, com a ventilada possibilidade de ser uma parada temporária, um dos mais tradicionais e relevantes jornais do Rio Grande do Sul: O Informativo do Vale. A importância dada ao veículo de comunicação não se restringe ao fato de que trabalhei naquela empresa, mas à forma como a informação era tratada. Seguindo os preceitos de seu fundador, o também saudoso Oswaldo Carlos van Leeuwen, a equipe fazia jornalismo como manda a cartilha, de forma bem trabalhada, com foco nos interesses da sociedade. Tanto quando tinha uma das maiores redações do interior do estado quanto quando era um pequeno grupo de profissionais, naquele prédio da Avenida Benjamin Constant, 2197, Bairro Florestal, em Lajeado, havia mobilização para levar aos leitores a informação de forma mais ampla e com a necessária agilidade. Não foram poucas as madrugadas invadidas para conseguir cumprir essa missão. Situação que arrepiava a equipe diretiva e de circulação, porque os problemas na entrega do dia seguinte seriam agravados. O fato é que não se deixou de noticiar, não se deixou de erguer as bandeiras de interesse do Vale do Taquari, não se deixou de honrar o nome Informativo. Já não fazia parte do quadro funcional quando as portas foram fechadas. Mas vi colegas, por quem ainda tenho grande apreço, terem ceifados seus empregos, sua principal fonte de renda. O rosto triste de cada um deles, as lembranças dos gloriosos dias em que estive na redação, a forma como aquela empresa era tratada por Seu Oswaldo, tudo trouxe-me uma profunda tristeza. Sei que fazem parte da vida os inícios e términos, os fins e eventuais recomeços, mas não deixa de ser triste ver o fechamento de uma empresa com 51 anos. E não se trata apenas de uma empresa. Foram mexidas as vidas de dezenas de famílias; de milhares de assinantes; dos mais de 300 mil habitantes do Vale, que perderam uma referência na comunicação, um aliado, um veículo que tinha interesses, como toda empresa privada, mas que não se furtou em ser parceiro sempre que a região precisou. Para muitos, pode ser só um jornal a menos. Para a história, certamente, foi o apagar de luzes de quem dava visibilidade e registrava a história regional.

Comentários

Anônimo disse…
Bela reflexão, espero que o agora adormecido um dia acorde!