O CATAR NÃO É HIPÓCRITA EM SUA IGNORÂNCIA

A Copa do Mundo do Catar começa neste domingo, 20 de novembro, e, desde que o país foi anunciado como sede do mundial de seleções, as pessoas têm buscado informações sobre a cultura e os hábitos locais. Eis que se deparam com um local com muito dinheiro, muita extravagância e regras, que assustam em quase todo o restante do mundo. No Catar, as mulheres são subjugadas e os homossexuais execrados. O beijo em público não é concebido, assim como é proibido o consumo de bebida alcoólica nesses ambientes. Tanto é que, somente, poderá ser ingerida cerveja nas fanfest, que são espaços criados para assistir aos jogos fora dos estádios de futebol. Muitos ficam estarrecidos com isso. A verdade é que, ao permitir que o Catar assumisse a responsabilidade de sediar uma Copa do Mundo sabiasse que o regramento, por lá, baseado em preceitos religiosos, é bastante rigoroso e que difere, em muito, dos modos de países como o Brasil. Começam, agora, as críticas ao preconceito e à forma como entendem a convivência humana. A verdade é que o pessoal do Catar não é hipócrita em sua ignorância (no pior sentido da palavra, em referência à burrice, mesmo). Eles admitem sua posição misógena, homofóbica e ditatorial. Enquanto isso, nós, por exemplo, fingimos viver em um país em que as mulheres vivem como querem, que negros são livres para ir e vir, que os homossexuais têm liberdade. Os números de registros mostram o quão somos hipócritas. O país sem preconceitos tem um registro de agressão à mulher a cada 10 minutos. O país sem preconceitos tem mais do que um registro por hora por atos de racismo. O país sem preconceito matou, por homofobia, 135 pessoas, somente no primeiro semestre deste ano. É evidente que há maior sensação de liberdade no Brasil, mas o fato é que se você não é rico, não estuda em escola particular, não anda em carro blindado, a mulher sai e não tem certeza se volta íntegra; o negro sai e não sabe se voltará vivo, se não será atacado e sufocado até a morte, apenas por ser negro; o homossexual sai e não sabe se voltará sem hematomas, sem ter sido agredido com uma pancada dada com uma lâmpada fluorescente. O Catar é um país cruel, mas não é hipócrita. Assume, achando certo, a sua brutalidade e ignorância. O Brasil finge ser o país do futuro, o oásis da liberdade e do bom senso, mas não passa de um grande solo preconceituoso, racista e homofóbico, em que impera a covardia.

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